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sábado, 6 de março de 2010

MOISÉS E JESUS - PARADIGMAS PARA O INTERCÂMBIO ESPIRITUAL


Reconhecer-se-á em breve que o Espiritismo ressalta a cada passo do texto mesmo das Escrituras sagradas.” – Espírito São Luís, O Livro dos Espíritos, questão 1011.

A Bíblia Sagrada, do Gênesis ao Apocalipse, é um vasto repositório de experiências mediúnicas. A cada página surgem numerosos relatos de contatos espirituais, visitação de anjos, escrita e vozes diretas, fenômenos de materialização, entre tantos outros, evidenciando, deste modo, a intervenção do Mundo Espiritual. Não obstante a abundância de médiuns e de mediunidades nas narrativas bíblicas, dois personagens específicos merecem destaque, pois se sobressaíram na intensidade das suas faculdades psíquicas e na importância das respectivas missões que protagonizaram. São eles: Moisés, a figura central do Antigo Testamento, e Jesus, a figura central do Novo Testamento.
Pretende-se, aqui, examinar alguns eventos mediúnicos e anímicos que assinalaram a vida de Moisés e a de Jesus, indicando-os como paradigmas para o intercâmbio espiritual.

1-A vida de Moisés.

1.1-Moisés e o seu tempo.

A vida de Moisés desenrolou-se no Oriente Próximo, ao longo do século XIII a.C. De ascendência hebraica, acabou sendo criado por uma princesa egípcia, recebendo educação sacerdotal. Contudo, jamais perdeu o vínculo com a sua origem étnica.
Os hebreus, divididos em várias tribos, estavam nessa época na condição de escravos no Egito, que formava, por sua vez, um imenso e poderoso império. Ao expandir seus domínios, os egípcios submetiam os povos que encontravam, impondo-lhes, conforme o caso, a escravidão ou o pagamento de tributos.
Os hebreus eram empregados como mão-de-obra na construção de palácios e templos, achando-se sob dura opressão. Ao presenciar um feitor egípcio maltratando um escravo hebreu, Moisés interveio em seu favor, mas acabou matando o feitor. Como o assassinato era um crime grave, Moisés fugiu para o deserto, em direção à Madiã, onde foi acolhido por uma família hebraica de pastores.
No seio dessa família, Moisés encontrou uma esposa e passou a cuidar de um rebanho de ovelhas, também se tornando um pastor. É, pois, justamente nessa fase da sua vida que se intensificaram as manifestações espirituais.

1.2-Moisés e seu primeiro contato com Iavé.

Moisés apascentava as ovelhas do seu sogro, nas proximidades do Monte Horeb, quando teve uma forte experiência espiritual, que mudaria para sempre os rumos da sua existência.
Visualizou uma sarça completamente em chamas, mas que não a consumiam. Do meio da sarça ardente emergiu um ser espiritual que passou a se comunicar com ele: “Moisés, Moisés! Eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa dos seus opressores. Sim; eu conheci os seus sofrimentos .[…] Vai, eu te envio ao Faraó para tirar do Egito os israelitas, meu povo1.”
A entidade espiritual que apareceu a Moisés identificou-se como sendo Iavé, responsável tanto por ele como também pelos demais hebreus. A partir desse primeiro contato, Moisés e Iavé formaram um circuito mediúnico ininterrupto, marcado pelos mais singulares fenômenos.
Cumpre destacar que Iavé é considerado aqui como o Espírito-Guia de Moisés e do povo hebreu, não como Deus.
Moisés atende aos comandos de Iavé e liberta, sob a sua influenciação espiritual, o povo hebreu da escravidão egípcia, iniciando uma longa marcha pelo deserto na direção de uma nova terra, a Terra de Canaã.

1.3 – Coluna de nuvem, coluna de fogo...

Moisés, pela análise que se pode fazer das narrativas bíblicas, era um poderoso médium de efeitos físicos. A seguinte citação evidencia um típico fenômeno de materialização:
O Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvens para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo para os alumiar; de sorte que podiam marchar de dia e de noite2.”
A coluna de nuvem e de fogo, que precedia a marcha dos hebreus, guiando-os pelo deserto, provavelmente constituía um agregado de material ectoplásmico, emanado diretamente de Moisés e de outros médiuns, que talvez nem tivessem consciência disto.
É oportuno destacar que a partir desta coluna de nuvem ou de fogo o Espírito Iavé tornava-se visível para o povo, ditando os seus comandos para o mesmo. Iavé fala para Moisés:
Eis que me vou aproximar de ti na obscuridade de uma nuvem, a fim de que o povo ouça quando eu te falar, e para que também confie em ti para sempre3.”
É, conforme a citação, frequentemente através de uma nuvem que Iavé consegue se comunicar com os hebreus. A citação, ainda, deixa claro o mecanismo mediúnico: o Espírito Iavé, antes de comunicar-se com seu povo, precisa aproximar-se do seu médium, Moisés, afinando-se com ele. A nuvem, através da qual Iavé fala ou se materializa, caracteriza a substância ectoplásmica que quando dispensada em grande quantidade pelo medianeiro configura uma verdadeira nuvem de aparência leitosa que servirá de interface para a manifestação espiritual.

1.4 – Um colegiado de médiuns.

Iavé disse a Moisés: 'Sobe para o Senhor, com Aarão, Nadab e Abiú e setenta anciãos de Israel, e prostrai-vos à distância. Só Moisés se aproximará do Senhor, e não os outros, e o povo não subirá com ele4'.”
Moisés fez como Iavé ordenara. Aarão, Nadab, Abiú e os setenta anciãos formavam um grupo mediúnico que funcionavam como suporte para as relações espirituais entre Moisés e Iavé. Era esse gurpo mediúnico que doava os recursos necessários para formar a coluna de nuvens, através da qual Iavé se comunicava.
Iavé disse a Moisés: 'Sobe para mim no monte. Ficarás ali para que eu te dê as tábuas de pedra, a lei e as ordenações que escrevi para sua instrução5'.”
Iavé ordena a Moisés que suba o monte, que era o Monte Sinai, onde se manifestaria e lhe entregaria um conjunto de orientações que os hebreus deveriam seguir, incluindo a Tábua dos Dez Mandamentos.

1.5 – No Monte Sinai.

Iavé e Moisés mantêm um diálogo memorável. A culminância do mesmo é a entrega dos Dez Mandamentos. É um dos acontecimentos mais importantes da História, pois o seu alcance transcendeu o tempo e o lugar em que ocorreram, estendendo uma influência sobre grande parte da humanidade, influência esta que é muito difícil de ser precisada, devido as suas proporções.
Tendo o Senhor acabado de falar a Moisés sobre o Monte Sinai, entregou-lhe as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedras, escritas com o dedo de Iavé6'.”
O recebimento dos Dez Mandamentos é, sem contradita, um evento mediúnico. É do Mundo Espiritual que parte o mais elevado código de moral e ética daquela época, que serviu de embasamento para quase todos os outros que vieram depois. É com a própria mão que Iavé grafa os caracteres sublimes na rocha, compondo as Tábuas da Lei. Esse fenômeno é conhecido dentro da terminologia espírita como pneumatografia ou escrita direta, em que o ser espiritual que se comunica escreve sobre um papel, uma lousa, uma parede, ou uma pedra, como foi o caso de Moisés, de forma direta sobre a superfície por ele elegida, sem utilizar-se da mão do médium para isto.
Toda a trajetória de Moisés na condução do povo hebreu pelo deserto, rumo a Terra Prometida, Canaã, é assinalada pelas relações mediúnicas que mantém com o seu Espírito Guia, Iavé. Quem lê e examina as narrativas bíblicas através do viés oferecido pelo Espiritismo, compreende isto muito bem.

2 – A Vida de Jesus.

2.1 – Jesus e o seu tempo.

Jesus é um personagem histórico extraordinário. A sua vida dividiu a História Ocidental em duas partes: antes e depois dele. É improvável que alguém, mesmo pertencendo a outras tradições religiosas, não tenha ao menos ouvido falar dele, com exceção das culturas que ainda não sofreram o impacto da civilização planetária.
Não obstante a fama e o reconhecimento de que goza na atualidade, Jesus foi uma figura apagada no seu tempo, quase desapercebido pelos anais da História. Não tendo deixado nada escrito, a principal fonte de informações sobre a sua vida, obra e ensinamentos, encontra-se nos Evangelhos, todos posteriores à sua morte.
Embora existam várias dezenas de evangelhos, as autoridades eclesiásticas definiram quatro como sendo os canônicos, oficiais. Os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, apesar de guardarem relativa diferença entre si, possuem uma unidade quanto ao estilo e ao conteúdo que expressam. O Evangelho de João, em contrapartida, distancia-se dos demais, revelando uma profunda influência do pensamento grego. Todos eles, no entanto, estão refertos de citações que demonstram largamente a fenomenologia anímica e mediúnica.
Jesus viveu no século I da Era Cristã, Era que ele mesmo inaugurou, entre os governos dos imperadores romanos Augusto e Tibério. Sua vida desenvolveu-se na Antiga Palestina, que foi o palco da sua missão. A Palestina, na época, havia perdido sua autonomia política, não passando de uma pequena província localizada na periferia do vasto Império Romano.

2.2 – A Anunciação...

O período que antecede ao nascimento de Jesus é marcado por intensas manifestações espirituais. Os seus pais, José e Maria, são frequentemente visitados por anjos (compreendendo que a palavra anjo, segundo sua raiz hebraica, quer dizer mensageiro) que lhes traziam orientações variadas.
O Anjo ou Espírito Gabriel, por mais de uma vez, entrou em contato com Maria, revelando-lhe o importante destino do Ser que ela trazia em seu ventre.
José, por sua vez, transita entre sonhos e visões, nos quais confabula com diversas entidades espirituais que lhe oferecem apoio e sustentação.
Como mantinham estreito relacionamento com o mundo espiritual, José e Maria podem ser definidos como médiuns, o que foi essencial para o desempenho da sua missão enquanto pai e mãe de Jesus.

2.3 – Diálogo com as sombras.

Jesus, segundo os relatos evangélicos, operou inúmeras curas, algumas delas relacionadas com processos obsessivos.
Foram muitos os endemoninhados curados por Jesus. Este termo, endemoninhado, era utilizado para identificar o indivíduo que estava sob uma influência espiritual negativa.
Um dos casos mais famosos é o de dois gadarenos, “(...) dois possessos de demônios [que] saíram de um cemitério e vieram-lhe ao encontro [de Jesus]. Eram tão furiosos que pessoa alguma ousava passar por ali. Eis que se puseram a gritar: 'Que tens a ver conosco, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?7' (…).” Logo se desdobra um diálogo entre os espíritos perturbados e Jesus, culminando na liberação e na restituição do equilíbrio mental dos dois gadarenos. Esse processo, que nós espíritas chamamos de desobsessão e que objetiva o bem-estar tanto do obsediado como do obsessor, era designado na época como expulsão dos demônios (o termo demônio deve ser interpretado como um ser espiritual como qualquer um de nós, preso, contudo, nas trevas de si mesmo).
Quando Jesus instrui seus discípulos para dar prosseguimento à sua obra, inclui como uma das tarefas primordiais o atendimento de obsediados...

2.4 – No Monte Tabor.

Um dos momentos mais impressionantes na História de Jesus é, sem sombra de dúvidas, o que se desdobra no alto do Monte Tabor. Jesus chama Pedro, Tiago e João e os convida para lhe acompanhar num retiro espiritual. Eles sobem a montanha e lá Jesus “(...) se transfigurou na presença deles: seu rosto brilhou como o sol, suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura. E eis que apareceram Moisés e Elias conversando com ele (…)8.”
Pedro, Tiago e João vislumbram as radiações luminosas que procediam de Jesus, revelando a sua elevação espiritual. Compararam-no com o sol, tamanha era a intensidade da sua luz. Os discípulos, ante o episódio inusitado, passaram a formar vaga idéia quanto à natureza espiritual de Jesus, que se apresentou para eles tal qual realmente era, no fulgor das suas conquistas interiores.
Mas o que mais desperta a atenção é a manifestação de dois Espíritos: Moisés e Elias. Ambos já estavam mortos há muitos séculos e o fato de reaparecerem ante a visão estupefata dos discípulos confirma tanto a imortalidade quanto a comunicabilidade com os mortos.
Qual terá sido o fabuloso diálogo entre Jesus, Moisés e Elias?!

2.5 – A Ressurreição.

Jesus morre, mas ressuscita, evidenciando a imortalidade da vida e a possibilidade de comunicação entre os vivos e os mortos.
De fato, a Ressurreição de Jesus é o fato central na História do Cristianismo. O Apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, assim se expressa a este respeito: “Ora, se se prega que Jesus ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns de vós que não há ressurreição de mortos? Se não há ressurreição dos mortos, nem Cristo ressuscitou. Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa pregação, e também é vã a vossa fé (…)9.”
O termo ressurreição significa ressurgir, surgir de novo, reaparecer. Aqui, refere-se ao aparecimento dos que já morreram aos que continuam vivos. O Apóstolo Paulo reflete que da mesma forma que o Cristo ressuscitou, os demais mortos também ressuscitam, ressaltando que se assim não fosse nossa fé careceria de sentido.
A ressurreição de Jesus e as suas sucessivas manifestações aos discípulos amados, assim, demonstra que a morte nada mais é do que uma transição para novas faixas existenciais, havendo permanente ligação entre os que já partiram e os que aqui ficaram.

3-Paradigmas para o intercâmbio espiritual.

A vida de Moisés e a vida de Jesus, repletas de experiências mediúnicas e anímicas, apresentam um paradigma seguro e ainda válido na atualidade para a comunicação com o Mundo Espiritual.
Quando Moisés entrava em contato com o Espírito Iavé e quando Jesus entrou em contato com os Espíritos Moisés e Elias, ambos adotaram, antes de mais nada, uma atitude íntima de recolhimento e introspecção. Ao fazerem isto, demonstraram que a eficácia e o sucesso do contato espiritual não podem prescindir dessas qualidades.
O fato de Moisés ter subido ao Sinai para se comunicar com Iavé e de Jesus ter subido o Tabor para se comunicar com Moisés e Elias, encerra uma metáfora muito importante que deve ser aplicada à mediunidade. A comunicação com os Espíritos Desencarnados, no caso dos mais evoluídos, exige dos Espíritos Encarnados elevação! Os médiuns precisam elevar-se dentro de si mesmos, nas regiões superiores de seu ser, a fim de estabelecerem um vínculo seguro e preciso com os Espíritos com os quais se comunicam. Os médiuns devem subir o seu Sinai e o seu Tabor para poderem falar com os Espíritos de escol.
Moisés e Jesus, antes do intercâmbio mediúnico, oraram. E, ao orar, transfiguraram-se, vestiram-se de luz... E a irradiação da sua luz favoreceu a sintonia com a luz dos Espíritos com os quais contataram. Do mesmo modo, os médiuns jamais devem se entregar ao exercício das suas faculdades sem primeiro orar.
Ao estabelecer o recolhimento e a introspecção, a elevação interior e a oração, como pré-requisitos indispensáveis ao êxito da comunicação mediúnica, Moisés e Jesus pretendem orientar o ser humano no processo das suas relações espirituais, cuja tendência é intensificar-se, representando paradigmas que merecem ser observados e seguidos.
___________________________________
1Êxodo, 3:7,10.
2Êxodo, 13:21.
3Êxodo, 19:9.
4Êxodo, 24:1-2.
5Êxodo, 24:12.
6Êxodo, 31:18.
7Mateus, 8:28-29.
8Mateus, 17:2-3.
9I Coríntios, 15:12-14.

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